terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Uma Ferrari por 9 000 dólares

Uma Ferrari por 9 000 dólares

| 21.02.2008 Revista Exame

O milagre ocorre graças aos serviços que permitem às pessoas compartilhar o uso de carrões com outros sócios

Divulgação

O Club Sportiva: cerca de 80 modelos para 200 clientes

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Por Luciene Antunes

EXAME No dia-a-dia, o analista financeiro Collin Smith, de 29 anos, reveza com a mulher uma BMW 335 e um Saab 9-3. A situação melhora muito em alguns fins de semana e nas viagens de férias. Nessas ocasiões, Smith tira da garagem de sua casa, em São Francisco, na Califórnia, máquinas bem mais sofisticadas e caras, como um Lamborghini Gallardo ou um Bentley Continental GT, entre outros. Cada uma delas custa entre 100 000 e 400 000 dólares. Embora seja um profissional bem-sucedido em sua área, Smith está longe de ter um rendimento capaz de bancar uma frota tão luxuosa. Ele consegue desfrutar dessa mordomia pagando 32 000 dólares por ano a uma empresa especializada em vender pacotes de time-share de automóveis. De acordo com esse sistema, mediante o pagamento de uma taxa, o cliente vira dono de uma fração dos carros, ganhando o direito de dividir o tempo de uso dos modelos com os outros associados. "Quando descobri o serviço, preenchi imediatamente a proposta de adesão", afirma Smith. "Mesmo se eu tivesse dinheiro para comprar sozinho uma Ferrari, continuaria utilizando o time-share, pois com esse sistema não preciso gastar com seguro e manutenção periódica, que pesam muito no orçamento quando se está falando desse nível de automóveis."

O time-share é um modelo de propriedade compartilhada bastante comum para bens como iates, mansões, helicópteros e jatinhos. Na Europa, esse tipo de negócio é tão difundido que chega a contar com uma feira para as empresas divulgarem seus produtos, a Fractional Life Expo, realizada anualmente em Londres, na Inglaterra. A grande novidade do mercado é a aplicação do serviço também no caso de carros de luxo. Segundo os especialistas, Europa e Estados Unidos contabilizam cerca de 60 empresas especializadas nesse novo mercado, batizadas com nomes como Club Sportiva, Classic Car Club, The Otto Club e Exotic Car Share (no Brasil, ainda não há nada similar). O apelo de todas elas é facilitar o acesso ao olimpo dos automóveis. As ofertas disponíveis vão de modelos esportivos a itens de colecionador. Uma Ferrari 355 Spider, capaz de atingir a velocidade de 282 quilômetros por hora, sai por uma taxa de 9 000 dólares. Em troca, o cliente tem o direito de dirigi-la por quatro semanas durante o ano. No topo da lista estão modelos como o Audi R8 e o Rolls-Royce Phantom, cotados a partir de 20 000 dólares (veja quadro).

Ofertas de luxo
O preço de alguns modelos de carros, segundo o sistema time-share(1)
Carro Preço (em dólares)
Alfa Romeo Quadrifoglio 6 240
Porsche Boxster 6 240
Ferrari 355 Spider 9 000
Bentley Continental G 15 000
Ferrari 360 Spider 16 500
Aston Martin DB9 20 000
Audi R8 20 000
Rolls-Royce Phantom 22 500
(1) Custos pelo uso do carro por quatro semanas em um ano Fontes: empresas americanas Privatus, Curvy Road, Exotic Car Share

UMA DAS MAIORES EMPRESAS do ramo é o Exotic Car Share, que opera desde 2000 na cidade de Palatine, em Illinois, nos Estados Unidos. Com faturamento anual de aproximadamente 3 milhões de dólares, o clube já possui cerca de 800 membros nos Estados Unidos. De acordo com seu fundador, George Kiebala, a idéia agrada a uma fatia crescente da população que adoraria dirigir um carro possante mas que não vê sentido em bancar sua depreciação e sua manutenção. "Nas últimas duas décadas, não apenas o preço desses carros tem aumentado astronomicamente como também os gastos com seguro, estacionamento e consertos", disse Kiebala a EXAME.

Algumas concorrentes do ramo de time-share multiplicaram suas filiais para atender melhor os novos clientes. É o caso do Club Sportiva, que iniciou suas atividades em 2003, na cidade de São Francisco, na Califórnia. Atualmente, a companhia possui cinco unidades, incluindo uma na Alemanha. No total, administra uma frota de 80 carros para um universo de 200 associados. Outra multinacional do time-share para carrões de luxo é a inglesa Classic Car Club. Hoje, ela está presente também na Escócia, na Dinamarca e nos Estados Unidos. Criada em Londres na metade da década de 90, a companhia foi uma das pioneiras no mercado de time-share para automóveis. Até hoje é muito procurada pelos aficionados de carros por contar com uma das maiores frotas de modelos clássicos. Entre outros itens raros, a Classic Car Club oferece aos sócios preciosidades como um Jaguar E-Type 72, que faz parte de uma família de modelos que marcaram época por seu design, considerado um dos mais belos já produzidos pela indústria automobilística mundial.

Além de vender os pacotes de time-share, a maioria dos clubes desse ramo promove uma série de eventos que estreitam os laços de relacionamento dos sócios entre si e com o clube. No The Otto Club, em Boston, nos Estados Unidos, a sociedade oferece serviços como o de concierge, que cuida de reservas em restaurantes e de assentos e camarotes em eventos esportivos e shows. No Club Sportiva, de São Francisco, há um espaço especial onde acontecem desde jantares com vinhos até exposições de artes, festas particulares dos associados e apresentações musicais. É comum ainda que diferentes clubes se juntem para cair na estrada em grupos de sócios pilotando seus carros preferidos. "As pessoas passam a se sentir parte de uma mesma família, fazem grandes amigos e realmente se comportam como se fossem proprietárias dos carros, o que é ótimo para o negócio, pois nossos clientes têm muito cuidado com a frota", disse a EXAME Torbin Fuller, de 35 anos, fundador e presidente do Club Sportiva. Em caso de algum acidente, porém, é o próprio cliente que arca com os custos do conserto. Mas algumas medidas preventivas são adotadas para evitar o pior. Segundo Fuller, uma das exigências para ingressar no Sportiva é ter mais de 30 anos e fazer uma aula especial de direção. "Basicamente, nosso instrutor profissional ensina o cliente a dirigir um carro de centenas de milhares de dólares e 400 cavalos de potência na estrada", diz.

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